Georges Vantongerloo e a arte cosmológica

Composition (Georges Vantongerloo, 1921)

Composition (Georges Vantongerloo, 1921)

Y= - x2 + bx + c rouge-vert (Georges Vantongerloo, 1933)

Y= – x2 + bx + c rouge-vert (Georges Vantongerloo, 1933)

“Georges Vantongerloo era o escultor do grupo De Stijl, mas o problema da pintura não deixou de interessá-lo, tendo ele realizado, paralelamente à sua obra de escultor, uma obra pictórica de grande importância pela audácia da simplificação e pela originalidade. Embora ligado estreitamente às ideias neoplásticas, Vantongerloo possuía amplos conhecimentos matemáticos que influíram de maneira decisiva na sua arte. Seu caminho da figura à abstração não se fez da mesma maneira que o de Mondrian ou dos demais elementos do grupo, mas da análise geométrica e algébrica das obras antigas e de suas próprias pinturas. A partir daí, Vantongerloo levou a racionalização de seu trabalho de pintor à construção matemática de quadros, com uso de séries e progressões, análise combinatória, etc. No que se refere às cores, introduziu coeficientes para achar o valor relativo das cores em relação com a superfície ocupada e sua situação respectiva”.

“Na revista Abstracion Criation, 1932, Vantongerloo publicou um texto em que procura definir, axiomaticamente, a natureza da arte como ‘relação de elementos plásticos, seja linhas e cores, seja volumes’. Afirma que, para que haja relações entre os elementos é preciso eliminar os corpos estranhos: o símile físico, o símile mecânico, o símile dinâmico, etc. Donde conclui que: 1º) entre todas as linhas, a reta presta-se menos ao símile; 2º) o plano retangular dá o máximo de possibilidades de relações e exclui o símile; 3º) a posição horizontal e vertical é a mais construtiva das posições”.

“Ao contrário das cores primárias (vermelho, amarelo, azul), Vantongerloo prefere as complementares, sobretudo o verdade e o malva sobre o fundo cinza e o branco. No que se refere à composição, entendia a posição vertical-horizontal num sentido de construção serena e sem conflito. Em 1937, abandona a linha reta e passa a usar finas linhas curvas, de cores neutras, que exploram as sutis tensões da superfície. Ao mesmo tempo, realiza quadros onde as formas se esfumam, como nebulosas”.

“A obra de Vantongerloo possui um sentido cósmico – e o próprio artista deixa ver isso em vários textos em que indaga sobre a natureza da energia que move os corpos no espaço – que não se encontra, senão em termos gerais ou metafísicos, em nenhum dos outros artistas neoplásticos. Conforme observa Juan-Eduardo Cirlot, ‘o cosmicismo de Vantongerloo, dito claramente, tendia a fugir da concisa representação da ordem (Mondrian), tanto como da efusão emocional (Kandinsky), para refugiar-se em um tipo quase figurativo de representações astronômicas’”.

“A obra de Vantongerloo – sua pintura como sua escultura – escapa ao quadro neoplástico, para se configurar na expressão de uma personalidade, complexíssima, de pesquisador insaciável”.

GULLAR, Ferreira. Etapas da Arte Contemporânea.

Leave a comment