O trauma visual em Ellsworth Kelly

Green, Blue, Red (Ellsworth Kelly, 1964)

Green, Blue, Red (Ellsworth Kelly, 1964)

Red, Blue, Green (Ellsworth Kelly, 1963)

Red, Blue, Green (Ellsworth Kelly, 1963)

“Este quadro de Kelly (escolhido a puro título de exemplo entre os muitos possíveis) tem o caráter de uma demonstração científica sobre o processo da percepção e, em particular, sobre os patterns visuais. Pattern significa esquema ou estrutura; na terminologia da psicologia da percepção, corresponde à estrutura do complexo fisiológico e psíquico (ótico e mental), em que se formam e se enquadram as sensações visuais, não mais concebidas como dados brutos para uma posterior elaboração mental, mas como estados completos de consciência.

O quadro em exame é um plano vermelho sobre o qual se destacam dois recoretes iguais e paralelos, um azul e um verde. São três cores que se furtam aos esquemas normais da relaão e não podem formar um conjunto tonal; com efeito, a primeira impressão é a de um choque visual, porque cada cor sugere uma profundidade diferente, sendo obrigadas a ficar no mesmo plano, isto é, a se situar no mesmo campo visual com valores iguais. Como o quadro é uma realidade objetiva com a qual devemos estabelecer uma condição de equilíbrio, nosso sistema percepetivo deve realizar algumas operações de ‘ajuste’, consistindo em supor ou imaginar tons intermediários, cuja média reconstrua o equilíbrio e a simetria do campo em nossa mente. O estudo dessas cores presumidas ou imaginárias, com as quais o sistema ótico-mental elimina os traumas da percepção, deve-se especialmentea os italianos M. Ballocco e M. Nigro.

A análise desses ‘ajustes’ é importante por demonstrar a capacidade do homem-sujeito em compensar os desequilíbrios e pôr-se em sintonia com o ambiente-objeto. Não se trata apenas de compensação: com efeito, parece profícuo aumentar as causas do trauma visual para estimular as capacidades de compensação do sistema a fim de aumentar, assim, a gama dos valores perceptíveis (como, por exemplo, as cores além do espectro ou, em acústica, os ultrassons). Dada a sua capacidade estimular reações psíquicas imediatas, entende-se por que os traumas visuais produzidos artificialmente são usados em larga escala na publicidade ou na sinalização viária, ou seja, a cada vez que se pretenda obter uma pronta resposta da mente perceptiva a um sinal visual.

O estudo dos mecanismos perceptivos, por meio dos quais o olho fabrica imagens coloridas para equilibrar os contextos do visto ou para atenuar o impacto das sensações, foi amplamente desenvolvido por Goethe em sua Farbenlehre [teoria das cores] e retomado pela Gestaltpsychologie, como fundamento da tese da identidade entre percepção e imaginação. O problema foi estudo experimentalmente por alguns pintores contemporâneos (Veronesi, Ballocco, Nigro).”

ARGAN, Giulio Carlo. Arte Moderna.

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